sexta-feira, 31 de agosto de 2018

LXVII Milhas Romanas (Mérida) e 101 Peregrinos (Ponferrada)



Já com muitas semanas de distância, mas eis que finalmente consigo deixar umas memórias sobre os meus últimos 2 (grandes) desafios.
Apenas estava prevista a participação nas LXVII Milhas Romanas em Mérida, mas com todas as incidências nessa participação fez-me participar (de novo) nos 101 Peregrinos em Ponferrada.

Mérida (6/04/2018)










A preparação para as milhas romanas foi decorrendo como previsto, sem lesões, sem conseguir fazer todos os km que gostaria de fazer, mas no geral seria o suficiente para terminar a minha 5ª participação em provas de 3 dígitos. Desde Janeiro até à prova foram cerca de 700km em muitas horas de treino.
Para a viagem até Mérida havia uma comitiva laranja já bastante habituada a estas andanças e com experiência em ultramaratonas.
Eu tinha combinado com o Nuno Dias de Almeida que seguiríamos no meu carro e nos juntaríamos aos restantes elementos para o almoço que seria em Elvas. Eu e o Nuno já partilhámos várias vezes a viagem e também a estadia noutras provas e, portanto, já sabemos mais ou menos como funcionamos com os preparativos para as provas.
O almoço decorreu como é normal nestas viagens com cada um a partilhar as expectativas, a sua preparação, e claro, com umas piadas sobre os hábitos e "manias" de cada um de nós.
Além do meu, os dorsais RUN4FUN eram da Sandra Simões (mas que seria utilizado pelo Rui Faria), do Nuno, do Rúben Costa e do Teodoro Trindade. A Guida foi uma vez mais apoiar ao vivo e a cores o Teodoro e o Rúben teve a companhia da sua esposa.
De barriguinha cheia lá seguimos nos carros para Mérida tendo combinado que iríamos ao hotel deixar as malas, seguiríamos até ao local de levantamento dos dorsais e depois iríamos descansar um pouco antes da prova... porque ainda era bastante cedo.
Como só tínhamos reservado uma noite, ao fazermos o check-in fomos logo informados que não haveria hipótese nenhuma de sairmos mais tarde do quarto uma vez que o hotel estava completamente cheio para a noite seguinte. Desta forma, ficámos logo avisados que só teríamos umas 15 horas para concluir a prova. Tendo em conta as nossas participações anteriores e o treino feito achámos que conseguiríamos terminar dentro desse tempo.


Fomos levantar os dorsais e vimos vários atletas já prontos para a prova e até comentámos que eles deveriam estar cheios de pressa... ainda era tão cedo.
Voltámos ao quarto, e toca de colocar o despertador para fechar os olhos durante uma horita e preparar o camelbak. A prova começaria às 21h e (tentar) descansar as pernas e os olhos antes duma directa sabe sempre bem. É claro que nesta fase já só se pensa no desafio que se aproxima, mas pelo menos os músculos relaxam um pouco.
Voltas para um lado, voltas para o outro e eis que toca o telefone do Nuno... era a esposa a desejar boa sorte... agora que iria mesmo começar a prova; responde o Nuno que não, que ainda faltava 1h e estávamos no quarto a descansar um pouco. Não são 20h ... já são 21h!!! Não, são mesmo 21h! Não pode ser!!! Não acertámos os relógios!!!
Nem queria acreditar... eu que planeio tudo, que gosto de ter todas "estas coisas" controladas, falhei no mais básico. Todo o treino e fazer 300km de viagem para depois falhar a participação na prova por causa da diferença horária!!! Foi demais.
Eu tinha mudado de telemóvel na manhã do dia da prova e como não estava a conseguir a actualização automática da hora pela rede, decidi fazê-lo de forma manual. Quando chegámos a Espanha nem me lembrei de acertar a hora.
Toca a vestir e colocar tudo à pressa dentro do camelbak. Ainda tivemos de voltar ao carro porque o Nuno não sabia da gopro e "ala que se faz tarde".
Felizmente tinha ideia de onde seria o local de partida e fomos a correr feitos malucos para chegarmos e ver o que nos esperava. Lá fomos vendo umas pessoas que nos indicavam o caminho e diziam que a prova já tinha começado há cerca de 30 minutos. Isso sabíamos nós!!!
Chegados à partida já estava tudo praticamente desmontado, mas felizmente lá nos carimbaram o passaporte e seguimos as indicações iniciais que nos deram. É claro que depois de 2 ou 3 cruzamentos já estávamos perdidos e não víamos indicações nenhumas da prova. Só tinham passado 30m e parecia que tinha sido no dia anterior que havia sido a prova. Eu na véspera tinha visto o mapa com o percurso e tentei que seguíssemos nessa direcção, mas não era fácil. Entretanto o Nuno tentava ligar para o Rui mas ele não atendia. Fomos perguntando a quem encontrávamos pelo caminho mas a ajuda era praticamente nula. Uns minutos mais tarde o Rui atendeu o telefone e deu-nos algumas indicações mas que eram completamente ao contrário do que nós víamos uma vez que nós íamos pela direcção oposta, ou seja, eles chegaram a determinado local e viravam à direita mas como nós vínhamos do lado oposto, tínhamos que virar à esquerda.
Felizmente tínhamos seguido por uma estrada que depois teria acesso por terra a uma das localidades por onde a prova passaria. Assim, passados cerca de 5 quilómetros vimos finalmente umas pessoas que faziam o percurso a caminhar e que iam bastante bem iluminados. Depois foram mais uns quantos quilómetros a correr a um ritmo que não estava nada previsto para tentar apanhar os companheiros, que entretanto iam progredindo ao seu ritmo.
Diferença dos percursos no início - a vermelho da prova e a amarelo o que fizémos. 
O reencontro foi aproximadamente no km 14 com o Rúben e uns metros depois com o Rui e o Teodoro.
Estávamos mesmo no 1º abastecimento que era de uma lentidão demasiada para quem vinha com a adrenalina no máximo e já fartos de tanta chuva. Os minutos de espera para o carimbo e passados à chuva não foram nada agradáveis.
Depois disso lá seguimos os 4 durante muitos quilómetros com a chuva constante a incomodar bastante. O percurso era bastante mais acentuado do que pensávamos e, como habitualmente, as subidas eram quase sempre feitas a andar. Com o entrar da noite e a temperatura a descer o desconforto era grande, mas todos nos incentivávamos e a moral estava boa.
Tinha vindo a comer uns pães com presunto, e entretanto num dos abastecimentos bebi água das garrafas dadas pela organização.
Por volta do km 40 comecei a ficar indisposto e depois acabei por vomitar; mas era apenas água, água e mais água; nada dos sólidos que havia ingerido.
O facto de ter vomitado fez-me bem e depois senti-me bastante melhor. Ao mesmo tempo já andava a ficar preocupado com o tempo de prova. No abastecimento dos 44,7km resolvi acelerar o passo e fazer o percurso até ao abastecimento seguinte praticamente sozinho. Precisava de avaliar o estado do físico e fazer contas para o tempo que estimava demorar até ao final.
A chuva pouco descanso deu durante as quase 7h45m que levei até ao abastecimento do km 54,1 (que para mim e para o Nuno foram 55,5) e que seria onde estariam os nossos sacos com roupa para trocar. Assim que cheguei veio logo uma espanhola da organização perguntar se ia desistir. Ainda lhe disse que ia pensar no assunto e depois lhe diria, mas a minha decisão estava praticamente tomada; o tempo que seria necessário para concluir os restantes 45km não permitia estar no hotel a horas de fazer o check-out. Caso tentasse seguir e depois desistisse num outro ponto de controlo mais adiante a logística seria mais complicada para a deslocação para a chegada. Nos 55km tinham uma carrinha quase pronta a sair e tudo seria mais fácil com os meus sacos.
Alguns minutos depois chegaram o Nuno, o Rui e o Teodoro. Vinham cansados mas o maior problema era a baixa temperatura e a chuva.
Ficaram bastante surpreendidos quando lhes comuniquei a minha decisão mas perceberam que a prova não seria concluída em 15h e a alternativa seria deixar que mexessem nas minhas coisas que estavam no quarto, eventualmente pagar uma noite extra, e isso para mim estava fora de questão.
Ainda emprestei alguma roupa seca ao Nuno e eles lá partiram de novo para a chuva e frio.
Alguns minutos depois chegou o Rúben que tinha tudo sob controlo. Trocou as roupas, arranjou o camelbak para os últimos 45km e saiu bastante confiante.
Quando finalmente a carrinha me levou de volta a Mérida o sentimento era de grande, grande desilusão. Sabia que um dia a desistência poderia acontecer, mas sempre pensei que fosse devido a lesão, a cansaço extremo ou ao estado lastimável dos pés. As 3 situações já me tinham acontecido em provas anteriores, mas por um motivo ou por outro, tinha conseguido prosseguir e terminar as provas.
Chegado ao hotel, apesar do cansaço e do muito sono, não foi fácil adormecer mas lá consegui dormir cerca de 1 hora e depois arrumei as minhas coisas e as do Nuno e fiz o check-out.
Fui tomar o pequeno almoço e entretanto encontrei a Guida que estava a fazer tempo para a chegada do Teodoro e do Nuno. O Rui estava um pouco mais para trás e a Sandra tinha ido ter com ele. O Rúben estava ainda mais para trás.
Quando o Nuno me ligou a dizer que faltavam uns 10km fui ter com eles para lhes fazer companhia nos km finais. 











Quando os encontrei existe sempre um entusiasmo inicial, contam-se as dificuldades passadas, mas sobretudo quer saber-se quando e onde é que acaba!
Tentei mudar o tema da conversa e motivá-los com a indicação de alguns pontos de passagem para se irem concretizando pequenos "objectivos" mas rapidamente os metros que eu tentava omitir nas distâncias entre os vários pontos foram descobertos e rapidamente passei a "mentiroso" e quem "não sabia contar os metros".
Na entrada de Mérida, na ponte, estava a fotógrafa Guida e os últimos metros foram feitos, como habitualmente, a correr com o ego cheio mas sem quase se conseguir andar. Estava feita mais uma.
A viagem de regresso a Lisboa não foi fácil; tinha sido a minha primeira desistência e tinha a certeza que tinha treino e capacidade suficiente para concluir a prova mas a hora do check-out do hotel não tinha deixado que assim fosse.
Na tarde de Domingo, já em casa, agarrei-me ao computador e comecei a procurar outras provas de 100km para as próximas semanas. O treino estava feito e portanto era preciso aproveitar. Da busca que fiz, e para breve, apenas encontrei os 101 Peregrinos e os 100km de São Mamede (UTSM). Ambas provas já concluídas em 2016 e 2017 respectivamente. Os Peregrinos seriam no final de Abril e o UTSM no final de Maio. Ou seja, ou tinha mais uns 15 dias de treino ou mais um mês e meio. A opção era fácil de tomar em relação ao treino, mas a logística seria bastante diferente. Mas, se tem que que ser que seja... toca de verificar se a prova seria semelhante a 2016 em relação ao percurso, abastecimentos e outras condições. Da análise feita tudo parecia muito parecido continuando a haver inclusivamente a possibilidade de pernoitar no pavilhão depois de concluir a prova e assim não terias problemas com check-out!
Excelente... os astros estavam alinhados, toca lá de tratar da inscrição e validar datas em relação a actividades do trabalho para esses dias.
Ops... inscrições encerradas e trabalho já combinado para esse fim de semana. Astros continuavam alinhados… mas não com os meus objectivos.
Que treta... será que ainda aceitariam uma inscrição? Será que conseguirei arranjar uma alternativa para o trabalho?
Uma coisa de cada vez e portanto, na continuação da loucura, na 2ª feira à noite enviei mensagem para a organização a questionar da possibilidade de inscrição.
Os dias passam passaram-se e nada de respostas... até que na 5ª feira (dia 12) ao final do dia me respondem: ya que has participado em otras ediciones habemos una excepción y cumpliremos tu petición. Ya te hemos inscrito y ya hemos asignado dorsal.
What? Eu só tinha perguntado se era possível! Estou tramado! Agora vinha a parte mais difícil que seria do trabalho. Na manhã seguinte disse logo ao meu chefe que precisávamos de falar e contei-lhe da resposta que me tinham dado. Acompanhando o meu estado de loucura, combinámos como se faria com o trabalho já previsto realizar na 6ª feira (dia da viagem) e no Sábado (dia da prova).
Para ajudar na decisão, no Sábado dia 14 de Abril, o João Canhoto (correr Loures) disponibilizou-me um dorsal para o Trail de Cascais que se realizava no dia seguinte. Seria uma prova de aproximadamente 22km mas que serviria em definitivo para avaliar o estado do corpo após os 55km da semana anterior.
O trail foi bastante agradável de fazer e estando a acompanhar a Helena Pinto (correr Loures) aproveitei para fazer umas piscinas pelo meio de forma a fazer mais uns quilómetros. No final a decisão estava em definitivo tomada e era tempo de confirmar a inscrição e planear a viagem e estadia.


101 Peregrinos - Caminhos de Santiago (28/04/2018)
A prova dos 101 Peregrinos em 2016 foi até hoje A PROVA! O projecto solidário (https://www.facebook.com/101nobreskms/) que decidi concretizar e que correspondeu com a minha participação nessa prova ainda me trazem com frequência muitas e boas recordações.
Não acompanho a família Nobre mas a sua situação continua a ser por mim recordada frequentemente e com muita consideração por todos eles.
Se em 2016 a viagem tinha sido a 4 (eu, o Gonçalo Fontes Melo, o José Carlos Melo e o Nuno Dias de Almeida), o que ajudou muito a passar o tempo, desta vez seria tudo sozinho; são cerca de 600km até Ponferrada, depois é fazer a prova de 101km e voltar a fazer mais 600km de regresso.
A viagem começou cedo para evitar o calor e também para ir parando com alguma frequência já que 24 horas depois estaria a fazer 101km a correr e passar mais de 6 horas ao volante no dia anterior não é muito aconselhável.
Numa das paragens que fiz, por mera coincidência foi exactamente num posto de abastecimento que também havíamos parado na viagem de 2016 e, surpresa, liga-me exactamente o Nuno a desejar boa prova. Obrigado! Estes contactos sabem sempre muito bem.


O almoço foi em chaves num restaurante recomendado por um colega de trabalho e onde comi uma bela duma posta mirandesa. Entretanto recebi mais uma mensagem de incentivo do Teodoro. Obrigado! Depois foi seguir viagem na parte mais lenta do percurso até Ponferrada.
O levantamento do dorsal foi no mesmo pavilhão e foi bom recordar os momentos de há 2 anos; depois disso foi seguir para o hotel.
O final da tarde e início da noite foi passado a acompanhar o trabalho que estava a ser feito a 600km de distância e tudo decorreu como planeado o que me deixou bastante mais tranquilo.
Depois de uma noite relativamente descansada, como é normal na véspera destes desafios, arrumei tudo e segui para junto do pavilhão onde ficaria estacionado o carro.
Uma vez mais eram milhares os ciclistas que enchiam a pista do estádio e se preparavam para a prova, que tem maioritariamente interesse nesta componente. Os corredores são algumas centenas mas não são a grande atracção da prova.
As partidas dos ciclistas são fraccionadas por tempo estimado de conclusão da prova e só depois se inicia a partida da corrida a pé.
Tendo em conta que havia previsão de uns chuviscos e não estava previsto estar muito calor, optei por fazer a 1ª parte (até aos 47km) apenas com um pequeno camelbak para levar água, os habituais pães com presunto e uns frutos secos. Quanto a roupa levei umas meias para trocar e o corta-vento uma vez que estava fresco enquanto se aguardava pelo início da prova. De calçado levei uns ASICS Pulse8 bastante confortáveis. Decisões acertadas!
Os quilómetros iniciais são feitos em Ponferrada tendo desta vez incluído a passagem por várias ruas o que é sempre agradável com alguns moradores e os acompanhantes a aplaudir os participantes.
Logo depois o percurso passa para terra batida e foram muitas, muitas vezes que me lembrava perfeitamente dos locais onde havia passado 2 anos antes. Ou por alguma característica do percurso, do piso ou da paisagem, a verdade é que me recordei de muitos locais por onde ia passando.
Nesta 1ª parte que estimava concluir em aproximadamente 6 a 7 horas o objectivo era o habitual para as provas desta distância, ritmo moderado mas sempre que possível em corrida para "eliminar rapidamente" quase metade da prova; depois o resto é ir fazendo com a contagem decrescente dos quilómetros que faltam para terminar.
Numa parte do percurso bastante íngreme em que a caminhada e o "descanso" eram obrigatórios fui acompanhado de 2 chicas. Uma delas com uma passada impressionante ia uns metros mais à frente; a outra era das que gostava de conversa. Contou-me que quase todos os fins de semana faziam provas de trail e já tinham participado em vários em Portugal. O que ela não se fartava de dizer era: "puta madre, que subida!".
 Nos vários abastecimentos que havia pouco comi e água engarrafada nem pensar beber. Depois de ter vomitado em Doñana e em Mérida com a água engarrafada que bebi, optei apenas pelas bebidas isotónicas. A água levava-a eu e tinha mais no saco que estaria aos 47km.
Por volta dos 40km, e depois de já ter comido todos os pães com presunto pensei que seria melhor comer alguma coisa antes do grande abastecimento dos 47 e optei por comer uns frutos secos (que incluíam passas). Ao início da tarde já estava uma temperatura quentinha e as passas também estavam quentinhas o que me levou logo a pensar que não devia ter sido a melhor opção... e não foi...
Para concluir esta 1ª parte da prova demorei cerca de 5h35m; em 2016 terei demorado aproximadamente 5h20m.
Assim que cheguei ao pavilhão onde funciona o apoio principal (aos 47km) fui logo direito ao WC e tive que "chamar pelo Gregório". Senti-me melhor mas tinha a certeza que o restante percurso já seria com o estômago a dar problemas e teria de ser muito, muito cuidadoso com o que iria comer e beber.
O almoço foi um prato de massa e depois tratei de preparar outro camelbak para o restante percurso. Já tinha deixado no saco quase tudo pronto e portanto foi só rever o que me fazia falta. Sabia que de seguida seriam 25km quase sempre a subir (dos 400 até aos 1470m de altura) e que chegando já ao final da tarde a temperatura iria descer bastante. Também durante a noite até terminar a prova estaria frio e portanto levei bastante roupa quente. Excelente opção. Quanto aos ténis decidi trocar por uns Saucony Jazz18 mas que não se revelaram ser a melhor opção; são bastante confortáveis mas a sola é mais fina e sentem-se mais os bicos das pedras que havia nesta 2ª parte do percurso e sendo feito em grande parte a andar mais vezes se colocam os pés no chão.
Ao final da manhã e início da tarde fui trocando umas SMS e no trabalho estava tudo concluído com sucesso. Maravilha... agora já só faltava eu executar com sucesso o que me havia proposto fazer.
A penosa subida que é feita praticamente toda a caminhar, e que demora, demora a terminar, é feita em muitas horas e é nesta fase que é preciso manter a cabeça ocupada com "as coisas certas". Se já durante a 1ª parte da prova a minha cabeça esteve muitas vezes a recordar a prova de 2016, todo o projecto da corrida solidária e a família Nobre, também é verdade que muitas vezes me lembrava da palavra "Mér(i)da".
E "Mér(i)da" foi sem dúvida a palavra que mais pensei durante a parte da tarde, durante a interminável subida. No entanto, a família, os amigos, os outros "loucos" laranjas RUN4FUN e correr Loures também estiveram por lá a fazerem-me companhia.
Como estava bastante calor, tinha bebido a água quase toda que levei e assim decidi, no abastecimento do km 58, começar a beber coca-cola.


Entretanto num abastecimento por volta dos 64km voltei a comer um prato de massa. Este abastecimento é praticamente a meio da subida e parece um oásis no meio do deserto. Eu já o esperava mas em 2016 foi uma muito agradável surpresas ver um acampamento militar no meio das montanhas e com a possibilidade de sentar durante uns minutos e "apreciar" um prato de massa.
É claro que o meu estômago continuava a não estar bem, mas a massa e principalmente os minutos sentado souberam bastante bem.
Depois foi continuar a subida e continuar à espera de ver as placas com as indicações "bajada vruta" ou "bajada normal". Essa indicação é por volta dos 75km sendo que os 10 seguintes são maioritariamente a descer e portanto faltando quase 30km... estava feita...
Como continuava a beber bastante coca-cola e pouco comia, decidi juntar na água (já morna) que ainda tinha, uns sais que tinha levado. A mistura deu o seu resultado "explosivo" quando parei no abastecimento perto dos 80km. Voltei a "chamar pelo Gregório" e lá consegui comer uma sandes com queijo e fiambre. Já estava a ficar bastante frio e aproveitei para vestir toda a roupa que tinha levado. Camisola térmica fina, camisola térmica grossa, manguitos, corta-vento e t'shirt RUN4FUN.
Depois disso não foi fácil voltar a correr, mesmo durante a descida, mas lá fui andando, e uma vez mais, voltando a recordar muitos dos locais por onde passava. Se isso era bastante agradável por um lado, por outro fazia lembrar-me de outros locais que tinha a certeza ainda teria de passar e o que me recordava ter demorado a concluir a prova em 2016 depois de lá ter passado por esses locais.
Com tanta roupa e como seria de esperar, às vezes estava cheio de calor (quando corria) e outras vezes estava com frio (quando caminhava).
No abastecimento perto dos 87km, onde em 2016 havia comido uma bela sopinha, ainda estive uns minutos a olhar para a comida, mas acabei por optar por não comer mais nada. Faltando teoricamente uns 13km, o que poderia significar cerca de 3h de caminhada, certamente conseguiria aguentar-me sem comer mais nada.
Não me recordo bem em que km ou em que momento "voltei a acordar" mas a alguns km do final, e quando o percurso assim o permita, voltei a correr vários minutos seguidos. Como ia passando por alguns espanhóis lá fui ouvindo os seus comentários: "que máquina!".
Tal como em 2016 a organização decidiu brindar os atletas com mais uns quilómetros de prova, também desta vez voltou a repetir a gracinha. Por volta do km 98 estava um elemento da organização a incentivar e a dizer que estava quase, que já só faltavam 7km!!! Eu já estava a contar com tal oferta e sabia duma parte do percurso que faltava fazer mas não é nada agradável pensar que faltaria mais de 1h.
Nos quilómetros anteriores ainda pensava que conseguiria terminar em menos de 15h mas com o desnível na parte final e esta oferta de quilómetros não foi possível. Mesmo assim consegui terminar em 15h40m, ou seja, menos 5m e apesar de terem sido mais 1 a 2km que em 2016.

Adrenalina e euforia no máximo! Estava feita a 5ª com mais de 100km.
Telefonemas para a família e é hora de tentar acalmar.
Eu sabia que teria a capacidade de ter concluído a prova em Mérida e que não fora uma questão física que me havia privado dessa conquista mas, se haviam dúvidas, elas estavam esclarecidas.
Já mais calmo vou ao carro buscar as coisas para o banho no pavilhão mas voltei a ter que "chamar o Gregório"; fui então para o pavilhão e novamente "Gregório" e o mais estranho é que me pareciam ser as couves que tinham tão bem acompanhado a posta mirandesa que tinha comido à cerca de 36 horas! Depois do banho... e para não variar... "Gregório".
Por volta das 2h da madrugada montei a minha caminha em chão duro e tentei dormir/descansar mas não foi fácil adormecer. Por volta das 5h30m chegou um grupo de atletas que devia achar que eram os galos lá do sítio e toca de fazer barulho para todos saberem que tinham terminado.
Ainda dei duas voltas para cada lado mas voltar a dormir nem pensar. Pois bem, está feita a minha estadia... é hora de voltar para casa. Tudo arrumado no carro e vamos lá fazer mais 600km de regresso.
E assim foi mais uma odisseia neste mundo louco das corridas (ou dos corredores loucos).
Mérida não ficou de forma nenhuma esquecida... foi apenas adiada e conto lá voltar muito em breve... e não será apenas para voltar a ver as suas ruínas. Conto dessa vez estar na partida a horas e fazer a prova toda!